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sexta-feira, dezembro 05, 2003

Almista acordou sem memória.
Tentou lembrar-se de qualquer história, nome ou fisionomia de seu passado. Absolutamente nada.
Sentiu-se liberta sem saber exatamente que tipo de sentimento era esse, já que o dia se abrira exatamente como antes. Mas como saberia se o mundo era assim antes?
Existiam pássaros? Cores e cheiros em tempos passados?
Esforçou-se para lembrar, mas o que sentia era similar ao que havia sentido ao apertar um alfinete entre os dedos. Então, preferiu seguir em frente. Aquilo não seria agradável.
Vagamente, as coisas foram aparecendo. Histórias que não eram as dela, mas que traziam-lhe familiaridade.
Muita coisa estrangeira, surtos e falsas paixões eram a temática preferida daquelas salas escuras por onde passava.
Sem saber exatamente o que era aquilo que lhe tomara todas as manhãs seguintes, foi seguindo por onde as pessoas a cumprimentavam, sorriam e brincavam.
- Devem ser isto a que chamam cotidiano...
E foi através dos sorrisos e das lágrimas emocionadas, que seguiu aquela estrada. Mal sobrava-lhe tempo para entender o que estava vendo, resolveu desistir das perguntas e dos pensamentos incompletos e entregou-se ao infinito.
Ao deparar com um espelho, viu-se refletida com uma luz lhe era estranha. Tocou seu rosto, como quem faz uma escultura de barro e riu, sorrindo, não acreditava:
- Todas as pessoas são diferentes. O tempo deve nos moldar como bonecos! Será que posso colorir este semblante envelhecido?
Juntou os fantasmas que há algum tempo a perseguia (e fazia com que mudasse do seu caminho florido) e os sufocou numa garrafa de champagne.
Numa daquelas encruzilhadas seguiu o perfume das flores, e sem hesitar correu para colher alguns daqueles cravos selvagens.
Criou seu novo ambiente. Recém construído, cheirando a brinquedo novo, retirou as folhas secas do vaso e cravou as unhas na terra úmida.
Ali mesmo, sem nenhum vestígio de amargura, trocou as flores para que novas pessoas pudessem entrar na sala dos seus sentimentos.


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