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segunda-feira, julho 26, 2004


Desafia o nosso peito a própria morte
Ele roda a cidade como um cão vira-lata, cuja natureza é procurar abrigo, mesmo que aquilo custe-lhe a própria vida. E mesmo assim, corre e abana o rabo para cada assovio que vem em sua direção. Mesmo que depois de perto, perceba que um pouco de água fervente, uma paulada ou um morteiro de festas juninas o esperam, ele aprende a apanhar e a se levantar para daqui meia hora, ter do que se esquecer. Um dia, alguém poderia estender-lhe a mão e era só isso o que importava.
Ele canta pro eco dos ouvidos moucos. Entrega de macio e de bandeja, tudo o que tem. Porque sabe que terá as ferramentas para reconstruir ou que pelo menos não irá desistir da luta.
Deixa que comam seu juízo e seu orgulho com colheres de danoninho, porque sofrer já era supérfluo, era quase um clichê.
Nasceu e sua vida começou a ser difícil. Tudo sempre lhe fora mais difícil. Por isso ele não conseguia enxergar a dificuldade.
E ser útil para felicidade alheia não lhe custava. Era de graça mesmo.
Até que numa noite mais fria do que o suportável, numa sensação térmica humanamente impossível, veio a constatação: a alegria era apenas uma das coisas que circulavam pelo mundo. Assim como dinheiro. Um não conseguiria ganhar sem que o outro a perdesse.
Então, depois de só ter experimentado a vida daquela forma, resolveu buscar o que era seu e o que havia se esmiuçado em tantas partículas, entre tantas pessoas, que não havia como recuperá-la.
Depois de uma longa caminhada de muito fracasso, não hesitou em roubar da única pessoa que se mostrara honesta - diante daquele homem que já não sentia mais - as migalhas de felicidade restantes, para que assim, pudesse interagir com o mundo. Falando e escutando. Dando um pedaço médio para roubar uma coisa inteira e maior.
Porque alguém teria que perder, e esse alguém não seria mais ele. Clamou para a liberdade:
-"Mudei de nome, porque mudei de vida".

sábado, julho 24, 2004


Enquanto houver burguesia, não vai haver poesia

Começa o final de semana sem muitas expectativas, e na rua temos um palhaço pintado e transformado junto a um anão com alguma roupa colorida, ambos na porta de uma loja que liquida móveis. Os comentários são sempre os mesmos: nossa, que sacada colocar este anão, chefe!
Do outro lado, um querubim não entende qual a graça de haver um anão de olhos tristes pro consumo. De ser anão não só naquele dia festivo, mas ser um daqueles indivíduos que só conseguem sobreviver explorados por suas próprias desgraças.
Do outro lado da rua, um garoto de 10 anos captura um pombo. Ele passou a manhã toda lutando por isso e assim que segura o pombo com as mãos não sabe bem ao certo o que fazer. Estrangular ou arrancar-lhe uma pena para mostrar aos amiguinhos sua conquista?
Mas ele tem apenas 10 anos. E ter 10 anos é pressuposto de que ele apenas reproduz o que vê nos adultos.
Ele é um pequeno burguês, criado por adultos burgueses.
O que é claro nas relações de sempre: pais que prendem seus filhos, que distraem suas crianças com DVDs que nada têm a dizer. Que nada ensinam, apenas distraem.
Distrair-se é o que mais as pessoas sabem fazer.
Relações regadas a hipocrisia, culpa e cobranças. O amor contratual.
Estariam ainda juntos? Ou o contrato já fora rescindido?
Há também o contrário: ligam todas as noites para dizer, ou mentir, quantas vezes ao dia pensam naqueles que tb se amarraram a si, na hipocrisia que dança e reproduz o contar dos dias para se reverem, enquanto apenas sentem-se livres em roda de amigos. Querem números e certezas.
Aos 10 anos de idade, aquele menino não sabe que o segura nas mãos, não tem dono. Que ele poderá matá-lo aos poucos para tentar possuí-lo, mas é apenas um pombo livre, que precisa se alimentar e tomar sol todos os dias.
E qto ao pombo, vêm-me Zeca Baleiro: "Eu vejo os pombos no asfalto, eles sabem voar alto, mas insistem em catar as migalhas do chão".
E continuemos a aplicar ação e reação na mesma proporção, a sermos coerentes, a dizer apenas o que temos certeza, para não cairmos no ridículo de passar por insanos, infantis ou românticos patéticos. Porque o sistema nos quer obedientes. 

quarta-feira, julho 21, 2004


Feliz Aniversário

Envelheço na cidade....

E aproveito para fazer uma seleção darwinista natural do que sobrou e foi coado depois.
Sobre essa teoria, algumas curiosidades:

Em 1859, quando foi publicada "A Origem das Espécies", de Charles Darwin, toda a edição foi vendida no primeiro dia. O princípio da seleção natural determina quais membros da espécie têm mais chance de sobrevivência. As crias não são reproduções idênticas de seus pais. Um leão pode ser ligeiramente mais rápido ou mais forte do que os pais; uma girafa pode desenvolver um pescoço mais comprido do que o dos pais. A cada geração, a característica favorável torna-se mais pronunciada e mais difundida nas espécies. Com o passar dos séculos, a seleção natural elimina as espécies antigas e produz novas.
(...) Em última análise, o darwinismo ajudou a acabar com a prática de ter a Bíblia como referência em questões científicas. Darwin havia tirado dos homens o privilégio de terem sido a criação especial de Deus.
Renan Garcia Miranda

E como você se sentiria dentro de uma jarra de suco de maracujá ainda não coado? Qual o valor de ser um colega, um conhecido, um amante, um passatempo?
Então reuniremos mais vezes a "Comissão da ONU", depois de chacoalhada a toalha das angústias e limpa a mesa onde casais trocaram alianças e juraram amor eterno.

domingo, julho 18, 2004

Palavras são só palavras
 
Há silêncios constrangedores, há dias que nada de importante é dito.
Mas o vazio é o q há de mais significativo: privo-te de minhas palavras.
Sufoco o que há de mais macio para ser compartilhado. "Prendia o choro
e aguava o bom do amor" - Cazuza.
Por alguns segundos pego-me não sendo mais o q achava q seria eu, e passo a ser silêncio também.
Uma mistura de frases e de contextos vem aa tona, "O essencial é invisível aos olhos", diria a raposa do livro de Misses, "Há coisas que não precisam ser ditas" suspiraria um anjo.
Então passo a ser outra... a espera do mesmo.
Não tenho mais a pretensão de ser entendida, mas ainda não abri mão de ser aceita.
Só é livre quem não tem nada a perder. Os pássaros não retornam mais, porque fazer ninhos hoje em dia, tornou-se uma coisa que dá trabalho. Ter trabalho é perder tempo. Não sobra mais tempo há ninguém.
Sinto saudade e minha garganta se torna ainda mais seca.
 

sábado, julho 10, 2004

Canceriano Sem Lar
Raul Seixas

Estou sentado em minha cama
Tomando meu café prá fumar
Trancado dentro de mim mesmo
Eu sou um canceriano sem lar

É, é, porém, mas, todavia
Eu sou um canceriano sem lar
Eu tomo café que é pra não chorar
Pergunto à nuvem preta quando o sol vai brilhar
Estou deitado em minha vida
E o soro que me induz a lutar

Estou na Clínica Tobias
Tão longe do aconchego do lar
All right, man
Play the blues
Clínica Tobias Blues
Adoecer

Seis dias sem conseguir comer. Passa o carro do churro na rua.
Sinto o cheiro aqui de cima.
Aproveito para só desfrutar do mel das coisas.
Chego ao ponto de chupar um salgadinho de isopor de cebola e jogar o bagaço fora. Assim, como grande parte das pessoas come mixirica.
Lamber um sonho é privilégio de poucos.
Não posso ler coisas muito complexas pq me dão vertigem, então desenterrei meus gibis do Cascão e do Urtigão.
Sinto-me feliz por ter alguns amigos perto. Que me trazem fitas do Charlie Brown e do Pequeno Príncipe fazendo-me sentir como no filme Adeus Lênin, mas no caso, o muro q cai é o da sutileza, vencem os grotescos.
Sansara, Dolls, Lotte, Olhares Tímidos, Caldo de Miojo, Cheiro de Chocolate... assim vou me recuperando.
Porém foi boa a oportunidade de tomar decisões e de cair na real.
Momentos de afastar o q é supérfluo, o q não importa mais, quem já deveria ter ido há tempos.
Aprendi que a solidão em alguns momentos não é uma impotência, e sim, uma seleção natural do que vale ter continuidade.

quarta-feira, julho 07, 2004

3º rascunho
O casal vai viajar.
Acordam pra ouvir a tradução do dia.
E aquilo parece q foi escrito para eles.
Ambos cumprem suas jornadas.
Um pensa sozinho.
O outro não pensa, apenas vive.
A hora passa arrastada.
A hora voa.
Um momento de descontração.
Uma prova de amor.
E na agonia de um, para felicidade do outro
Eles continuam a se encontrar.

2º rascunho
Ele acorda atrasado.
Creep no despertador.
Procura não pensar nas coincidências.
Odeia misticismos.
A palavra enfermidade o incomoda.
Mas sente estar preso na semântica das palavras.
Não há perguntas.
A realidade não pode ser assim, tão superestimada.
A coisa é só simplista.
Por isso seja tão difícil darem crédito ao cotidiano.
Passa gel no cabelo e vai trabalhar.
1º rascunho
Ela continua.
Come cereais enquanto assiste ao Caverna do Dragão.
A pergunta que não quer cessar.
Amelie Poulain ao piano.
Essência de baunilha.
Gosto de chocolate.
Um dia de fuga.
Um livro que não faz mais sentido.
Palavras são só palavras.
A realidade é só isso mesmo.
Qual verdade seria a melhor?
Como os loucos e as crianças, ela chora.
As lágrimas secam.
Vendo a figura do anti-herói infantil.
Sufoca com o travesseiro suas fantasias.
Toma café.
Limpa os escritos na parede.
E diz Bom Dia como se estivesse a esperança
De que o fosse.

segunda-feira, julho 05, 2004

Vamos dialogar sobre esta letra... qual a interpretação de vocês?
Um de cada vez por favor-rs


Grand Hotel
Kid Abelha

Se a gente não tivesse feito tanta coisa
Se não tivesse dito tanta coisa
Se não tivesse inventado tanto
Podia ter vivido um amor grand' hotel

Se a gente não fizesse tudo tão depressa
Se não dizesse tudo tão depressa
Se não tivesse exagerado a dose
Podia ter vivido um grande amor

Um dia um caminhão atropelou a paixão
Sem teus carinhos e tua atenção
O nosso amor se transformou em "bom dia"

Qual o segredo da felicidade
Será preciso ficar só pra se viver
Qual o sentido da realidade
Será preciso ficar só pra se viver

Se a gente não dissesse tudo tão depressa
Se não fizesse tudo tão depressa
Se não tivesse exagerado a dose
Podia ter vivido um grande amor

Um dia um caminhão atropelou a paixão
Sem teus carinhos e tua atenção
O nosso amor se transformou em "bom dia"

Qual o segredo da felicidade
Será preciso ficar só pra se viver
Qual o sentido da realidade
Será preciso ficar só pra se viver
Só pra se viver
Ficar só
Só pra se viver


"Grand' hotel é uma letra sobre o fim de um relacionamento provocado pela rotina (O nosso amor se transformou em "bom dia").
O verso "podia ter vivido um amor Grand' hotel" cita uma antiga revista de fotonovelas, representando a ilusão perdida de um amor idealizado, onde as pessoas se casam e são felizes para sempre."
Paula, da própria banda