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segunda-feira, julho 26, 2004


Desafia o nosso peito a própria morte
Ele roda a cidade como um cão vira-lata, cuja natureza é procurar abrigo, mesmo que aquilo custe-lhe a própria vida. E mesmo assim, corre e abana o rabo para cada assovio que vem em sua direção. Mesmo que depois de perto, perceba que um pouco de água fervente, uma paulada ou um morteiro de festas juninas o esperam, ele aprende a apanhar e a se levantar para daqui meia hora, ter do que se esquecer. Um dia, alguém poderia estender-lhe a mão e era só isso o que importava.
Ele canta pro eco dos ouvidos moucos. Entrega de macio e de bandeja, tudo o que tem. Porque sabe que terá as ferramentas para reconstruir ou que pelo menos não irá desistir da luta.
Deixa que comam seu juízo e seu orgulho com colheres de danoninho, porque sofrer já era supérfluo, era quase um clichê.
Nasceu e sua vida começou a ser difícil. Tudo sempre lhe fora mais difícil. Por isso ele não conseguia enxergar a dificuldade.
E ser útil para felicidade alheia não lhe custava. Era de graça mesmo.
Até que numa noite mais fria do que o suportável, numa sensação térmica humanamente impossível, veio a constatação: a alegria era apenas uma das coisas que circulavam pelo mundo. Assim como dinheiro. Um não conseguiria ganhar sem que o outro a perdesse.
Então, depois de só ter experimentado a vida daquela forma, resolveu buscar o que era seu e o que havia se esmiuçado em tantas partículas, entre tantas pessoas, que não havia como recuperá-la.
Depois de uma longa caminhada de muito fracasso, não hesitou em roubar da única pessoa que se mostrara honesta - diante daquele homem que já não sentia mais - as migalhas de felicidade restantes, para que assim, pudesse interagir com o mundo. Falando e escutando. Dando um pedaço médio para roubar uma coisa inteira e maior.
Porque alguém teria que perder, e esse alguém não seria mais ele. Clamou para a liberdade:
-"Mudei de nome, porque mudei de vida".

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