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sábado, novembro 13, 2004

Viva os Porcos!

Há uma espécie de ritual no Brasil, quando o assunto é cerveja.
Deixar os filhos bebês, as esposas, os maridos, os pais doentes,os cachorros com fome fazem parte da cerimônia. Na escala de prioridades, é a loira em primeiro lugar!
Sentar-se em uma mesa de boteco é o que há de mais importante nas noites de final de semana. Vida rica não?
A gente gosta de rir da nossa própria desgraça. Porque recomeçar, passar mais tempo com os filhos, plantar sementes não são coisas importantes. São obrigações.
O boteco é o lugar onde você pode sentar e ser porco à vontade: contar piadas, ser preconceituoso, debochar dos que escolhem pela continuidade. Desrespeitar os que trabalham duro e estão na fila do ônibus e que vão chegar no mesmo horário dos que estão no "happy hour", porém, ao invés de comer amendoim, eles estão sonhando com algumas horas de sono a mais entre uma troca de ônibus-metrô-trem-ônibus e mais 35 minutos de caminhada. Desrespeitar sua própria natureza, degradar tudo o que você sempre finge ser. Ali, naquela mesa, você vai ser porco por horas. Vai falar de amenidades, vai rir e se humilhar diante de si mesmo. Vai ver o quanto é egocêntrico, vai jogar fora não só papo, mas a máscara da hipocrisia que carrega durante a semana. Vai deixar os papéis que representa, para ser apenas um porco no meio de outros porcos infelizes.
Da próxima vez, não jogue mais pérolas aos porcos, jogue cerveja.

Penso numa nova interpretação para o bicho de Manuel Bandeira:

O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

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