Seguidores

sábado, maio 01, 2004

Eu tenho um mundo já construído, mas não dá tempo de fazer isso fora da minha cabeça.
"Falta dinheiro, falta sexo, falta poesia!"

Em contrapartida, o dia-a-dia tem-me roubado algumas lágrimas em filas de supermercado, na rua, em qualquer lugar que há vida. Sabe aquelas lágrimas que saltam no meio do nada? É assim que não-reajo diante das mazelas do mundo.

De noite vi um idoso - de sexo identificável - que acho que ainda não foram criadas as palavras para se identificar o tipo de deficiência dele. Mal falava, era corcunda, os olhos fechados, um andar comprometido, respirava com a dificuldade de alguém que tivesse um ataque pilético constante.
Todos que o viram deram-lhe um trocado (detalhe: ele não estava pedindo).
Ele foi ao corredor de doces e escolheu um pacote de biscoitos. Até o rapaz que trabalhava no caixa pediu para que ele passasse sem pagar porque ficaria por sua conta.

Agora te pergunto: você acha que as pessoas deram-lhe dinheiro porque sentiram inveja da força que aquele(a) senhor(a) - que dava um tapa na cara de toda aquela hipocrisia - tinha pra escolher seu pacote de biscoitos preferido?

Eu acredito que as pessoas só fizeram isso exclusivamente por medo do "castigo" por tudo que não fazem de bom diariamente. Por tudo que são e pelo o que deixam de fazer no nível de consciência que vão adquirindo.

Esse fato fez-me lembrar automaticamente de outro que ocorreu na hora do almoço.
Dentro de uma lanchonete um menino de uns 12 anos, perfeito e bem vestido abordava todas as pessoas que entravam e dizia: "Sr. o que posso fazer para ganhar 1 real?"

Adivinha o que ele precisava fazer?
"Nada. Eu te dou sem que você precise fazer nada querido."
"Não precisa nada não. Tó o dinheiro"

E adivinha o que ele foi fazer com o dinheiro?
Comprar cortante para pipa.

Noutro dia, vi uma fila de dobrar quarteirões num banco, um senhor sendo mal atendido numa cadeira de rodas por ter deficiência na fala enquanto uma roda de mulheres ficava em cima de uma menina de uns 5 anos que esboçava pensamentos.
"Que bonitinha!"

Voluntariado não é ir no final de um domingo visitar idosos ou crianças abandonadas, é sair voluntário de casa, e também ao estar dentro de casa. Com alguém ou com algo.
As plantas precisam também de sorrisos.

Aliás o "alma penada" - que é a forma como as pessoas o chamam aqui no bairro - é aposentado e chama-se Sra. Socorro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário