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domingo, fevereiro 01, 2004

Metade
Oswaldo Montenegro

Que esse medo que eu tenho não me impeça de ver o que eu sei
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que grito... mas a outra metade é silêncio.
Que a musica que ouço ao longe seja linda, ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja para sempre amada, mesmo que distante
Porque metade de mim é partida... e a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece, nem repetidas com fervor, apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço... mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensa
Porque metade de mim é o que penso... e a outra metade é o vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
Que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que me lembro de ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que eu fui... e a outra metade eu não sei.
Que seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer arquitetar o espírito
E que o teu silencio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo... mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar, porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a platéia... e a outra metade é a canção
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor... e a outra metade também.

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